5° LUGAR – PROSA NACIONAL – CRÔNICA – VI Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"
Ontem, hoje, amanhã
Waldir Capucci – Jacareí/SP
Já transcorreram mais de trinta anos desde que da mesma janela do hotel observei os estudantes aglomerados no pátio da mesma escola. O prédio está diferente, modernizado na estrutura e com cores mais vivas e agradáveis aos olhos. O comportamento dos estudantes é que está muito diferente, notório que a algazarra antiga era menor, não existia tanta indisciplina como hoje. As atitudes mudaram muito no decorrer das décadas, mas permaneceram os risos, gestos carinhosos e chasqueares recíprocos, atitudes que o tempo não consegue mudar.
Observo casais trocando afagos, carícias e beijos; jovens dispersos direcionando olhares, alguns furtivos e outros maliciosos. Fico a imaginar se num futuro próximo, talvez dez, vinte ou trinta anos, a linda menina morena de olhos verdes que troca beijos acalorados com um menino, também moreno, não estará abraçada e fazendo carinhos no moleque magricelo, de cabeleira loura tal qual uma espiga de milho, que vejo de namorico com uma sorridente e linda japonesinha de cabelos negros e longos.
São tempos modernos, aos quais todos precisam se adaptar. Mas inquieto-me bestamente pensando se terão futuro relações tênues assim, sem qualquer candor das partes envolvidas, simples namoricos, sem compromisso sério por parte dos casais.
Relembro meu comportamento quando tinha essa idade; fica inevitável não comparar o meu passado com o presente deles. Contrastando os compromissos sérios dos jovens da minha época com os revezamentos de
parceiros - meninos imberbes e meninas com seios minguados de hoje -, pergunto-me quais recordações terão no futuro.
Será que aquela menina de olhos verdes não se sentirá arrependida ao pensar que o homem da sua vida era justamente o garoto moreno que ela trocou pelo lourinho? E, assim também, o louro escanifrado, possivelmente transformado em um homem encorpado e forte, não se remoerá de remorsos por ter descartado a moça nissei?
Volto à realidade: pensamentos ridículos os meus!
Hoje tudo está muito diferente, o romantismo está sepulto. Os amores são voláteis e os relacionamentos fúteis, muito passageiros, que se evaporam sem deixar lembrança alguma. Se é que sejam amores mesmo.
Homem já calejado pela vida entendo que os adolescentes que estão sob minha vista agora trocarão tanto de parceiros, que talvez nem consigam se lembrar de alguns namoros da adolescência. As bocas beijadas, os corpos entrelaçados e os momentos vividos a dois, com certeza farão parte de um período coberto pelo limbo, enterrados numa sepultura sem lápide, fotos ou qualquer identificação. Muitos serão apagados da memória porque nada representaram de fato.
O viver intensamente o presente, desapegados de compromissos, acabará por lhes tirar o prazer de vivenciar o amor de verdade, pelo simples fato de pertencerem a uma geração quase desprovida de sentimentos. Assim, os relacionamentos passageiros que vão somando a cada experiência nunca fincarão raízes; a praticidade e rapidez no descarte e troca de companhia é a tônica do mundo em que vivem.
Espero que a liberdade descomedida de hoje não os condene, mais tarde, quando adultos, a viverem encarcerados num mundo vazio, desprovido de afeições, onde até mesmo lembranças da adolescência e juventude lhes serão impossíveis, pois seus corações e mentes não armazenaram muitas recordações, quase tudo poderá estar apagado.
Sem passado, presente ou futuro alicerçados e, pior ainda, sem poder alimentarem-se com gostosas lembranças na mente, e doces saudades no coração das pessoas que fizeram e ainda poderiam parte de suas vidas, o que lhes restará?
Confesso que lhes tenho pena! Talvez o destino que os aguarda seja viverem seus últimos anos tendo como única companhia a solidão.
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