3° LUGAR – PROSA NACIONAL – CRÔNICA – VI Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"

 O Sorriso da Tartaruga

Celso Lopes – São Paulo/SP

Na conhecida fábula da Lebre e a Tartaruga, quem sobe ao pódio, com sucesso,  depois do “descaso” e do “cochilo” da Lebre durante o percurso, obviamente, é a  própria Tartaruga. A oponente ágil e veloz por natureza, mas sem humildade,  arrogante e contadora de vantagens, lorotas e firulas como “ ninguém corre mais do  que eu”... “ eu venço você na corrida com os pés amarrados”... deu adeus ao  reconhecimento público da sua competência, ficando apenas com o papel relegado de  “perdedora” na história das fábulas...  

No entanto, ao contrário, a sua rival competidora, para quem o trabalho, o esforço e a  perseverança trazem bons resultados, a Tartaruga, ela mesma, assim na terra como  mar, vem conquistando espaço de amparo e proteção aos olhos do mundo inteiro. A  fábula lhe deu razão para sempre, dotando-a de persistência, resiliência e, por que não,  direito “ à benção da longevidade”, ou seja, algumas dessas espécies de quelônios  passam facilmente dos 100 anos.  

Na verdade, podemos dizer que a Tartaruga é uma competidora nata contra o tempo. E  sendo assim, quem melhor que ela para “levantar a Lebre” da poluição desenfreada nos  mares? Quem melhor que ela para “sacudir a poeira” em respeito ao meio ambiente? E  graças a isso, somado ao seu empenho privilegiado de seguir sempre em frente, desta  vez, na real, na real... a Tartaruga vai assistir de camarote e torcer muito por uma  corrida sem igual, ou seja, uma corrida de Sapos... 

Bem, melhor esclarecer logo: na verdade, é uma corrida moderna, de Sapos  tecnológicos, claro!... Isso porque, ainda recente, alguns cientistas dos USA, acabam  de criar um “robô-vivo”, a partir de células-tronco de sapos africanos, de nome  Xenobots, que medem, aproximadamente, um milímetro, e têm a função programável  para trazer ou levar substâncias. Aonde, por exemplo?!...  

Os cientistas nos adiantam: esses organismos vivos e programáveis poderão transportar  remédios pelo nosso corpo, viajar pelas artérias para remover placas gordurosas  e...aplausos!... poderão, quem sabe, num futuro bem próximo, formarem um exército-

tarefeiro de milhões e milhões de Xenobots para coletar os microplásticos, fragmentos  e afins dos rios, mares e oceanos... 

A notícia é mais que alvissareira para todos. Em especial para as Tartarugas que, avessa  às tecnologias de ponta, querem voltar a sorrir com a antiga medalha de vencedora  pendurada ao pescoço; E melhor ainda – todos nós estaremos juntos e na torcida para  garantir esse sorriso largo das espécies, ou seja, vamos vibrar para que ela, a Tartaruga,  onde estiver, possa, tranquilamente, nadar de braçada, e exibir uma ampla alegria,  enquanto segue pegando ondas pelos sete mares afora!... 

E tudo isso vem ocorrendo porque há uma bomba explodindo silenciosamente diante de  todos nós. A tranquilidade dessas espécies será fatalmente atingida e, por extensão,  todos nós teremos consequências irreversíveis. Afinal, já vem de longe a denúncia sobre  os perigos latentes do chamado “vilão marinho”, ou seja, o material plástico em suas  diversas formas: quer sejam sacolas, garrafas PET, canudos, redes de pesca, isopor e  outros milhões de resíduos descartáveis made-in-polipropileno – matéria-prima  inerente a essa indústria de transformação. É relevante a informação: “O plástico nos  oceanos se decompõe paulatinamente em microfragmentos que são ingeridos pela  fauna marinha, o que faz com que cheguem à nossa alimentação com consequências  ainda desconhecidas para a saúde humana (...)  

Segundo dados da FAO, desde 2016, “perto de 800 espécies de moluscos, crustáceos e  peixes já sabiam o que era comer plástico”. Atualmente essa “bomba” ganhou as  manchetes do mundo. Segundo a ONU, “ os oceanos recebem anualmente a cifra de oito  milhões de toneladas de plástico, mas o que não imaginávamos é que fosse capaz de  chegar às profundezas marinhas.”. A manchete complementa o veredicto mortal:  

O plástico conseguiu chegar ao ponto mais profundo do planeta: o abismo  Challenger, situado a 11.000 metros de profundidade, onde praticamente nem mesmo o  homem é capaz de chegar. A descoberta é a melhor prova da dimensão do problema e  de que chegou o momento de se conscientizar e fazer o possível para reverter essa  situação (...) 

Tratado adequadamente como “um drama ecológico”, de um lado, ainda que tímidas,  há correntes contra o uso desenfreado do plástico, que clamam com veemência,  iniciativas e alternativas “sustentáveis”; e de outro, a indústria, entidades e diversos  profissionais que pregam a reciclagem, o uso consciente, além de uma educação  ambiental efetiva, circular, mais incisiva e, obviamente, com ações comprometidas de  público, humanitariamente, em salvar o planeta e todas as espécies de seres vivos. 

E para não dizer que os cientistas não falaram de flores, vejamos: 

Os Xenobots são totalmente biodegradáveis, e parecem cumprir uma instrução bíblica  bastante saudável sobre a função do trabalho. Isso mesmo. Somente que, diferentemente  do descanso bíblico no sétimo dia, esses fiéis-escudeiros, após a sua labuta do dia a  dia, morrem, ou seja, transformam-se em células-mortas que, no caso de animais e  humanos, serão absorvidas pelo corpo – garantem os pesquisadores.  

Voltando à fábula antiga da Lebre e a Tartaruga, em que pese a moral da história até  relatar, entre outras inúmeras possibilidades, que “devagar se vai ao longe”, razão pela  qual a Tartaruga sagrara-se vencedora, nesta fábula real contemporânea, com esses  novos “atores” e “historiadores” da ciência do futuro, queremos crer que haja uma  outra leitura possível, ou seja: “- Mãos à obra, não há tempo a perder!...”  

E os dados confirmam: a poluição oceânica do plástico passa por uma crise importante;  e a ação originária é do ser humano... mas a solução também passa por nossas mãos,  dos fabricantes, pesquisadores e governos. Grande parte dos 500 milhões de toneladas  são considerados plásticos de uso único que, uma vez descartados, podem seguir em  direção ao aterro e ao mar... A solução definitiva é complexa, entretanto, reduzir o uso e  o consumo, além de pesquisas eficientes sobre o lixo plástico marítimo, tudo isso são  iniciativas mais que urgentes...  

E, assim, as Tartarugas, quer sejam elas de água-doce, como a Tartaruga-Tigre do  pantanal, ou Tartarugas-marinhas, e, principalmente, as tartarugas brasileiras  ameaçadas, como a Cabeçuda, de Pente, Oliva, de Couro, e até mesmo a Tartaruga Verde... todas elas, acreditamos, se tudo se confirmar nessa linha visível do horizonte,  ganharão um status e um sorriso largo de ‘sobrevivência sustentável’; e para nós, o  troféu de “inteligentes sustentáveis”, pois, aliados à pesquisa e cooperação mútua dos  sapos-robôs, os Xenobots, com certeza, confiantes, contribuiremos para diminuir ou  eliminar, de vez, o excesso de ações predatórias que ferem a integridade natural de  todo o nosso meio ambiente.  

Referência: https://www.iberdrola.com/sustentabilidade/poluicao-plastica-nos-oceanos#:~:text=O%20pl%C3%A1stico%20localizado%20nos%20oceanos,desconhecidas%20para%20a% 20sa%C3%BAde%20humana

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