3° LUGAR – PROSA ESTUDANTIL – CONTO – COLÉGIO ARQUIDIOCESANO DE OURO BRANCO – VI Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"

Cafeteria

Yasmim Cristina Rabelo


Trabalho como detetive da polícia de Londres e, devido à minha longa carreira, meu faro me diz muita coisa. E, nesse caso, não foi diferente.  

Alguns dias antes do acontecido, estava andando pelas ruas a procura de um bom lugar para garantir a minha cafeína. Estava virado e, se não tomasse um café, não sei se aguentaria mais uma hora de trabalho. Fui até uma cafeteria cuja vitrine deliciava a todos que a sua frente passava.  

Embora a loja parecesse ser um lugar acolhedor, a realidade para os trabalhadores era diferente. Muita gente falava que as condições de trabalho lá eram precárias e o dono um carrasco, com um histórico pecaminoso. Fiz então meu pedido, o consumi e fiquei descansando por alguns minutos, lutando contra o sono que estava sendo postergado a dias.  

Veio então um garçom retirar todos os vasilhames e limpar a mesa, para que quando eu saísse, outro alguém já pudesse se acomodar. Sentado, percebi uma movimentação estranha do outro lado da rua. Um homem, visualmente mal, passara rápido, olhando para o lado, como se estivesse fugindo de algo. Deixei o pagamento em cima da mesa, junto da gorjeta para o garçom, e continuei minha jornada exaustiva de trabalho.  

 O dia estava frio. Nublado, chuvoso. Era mais um dia de muita agitação na Baker Street, uma das principais ruas de Londres. Entretanto, havia algo muito estranho em uma casa especificamente. Um odor diferente, um cheiro suspeito.  

Na área daquela moradia, não se ouvia nenhum barulho, diferentemente do resto de toda extensão da rua. Como a pessoa observadora que sou, me assentei no banco e observei a movimentação, inexistente até então, na espera de que alguma coisa aconteceria de diferente ali.  

Duas horas se passaram e eu vi uma pessoa saindo daquela casa. Um fato estranho, uma vez que a casa estava escura e silenciosa, o que dava a entender que não havia ninguém ali, embora dentro de mim, algo dissesse que sim. Percebi que o cidadão deixou a porta aberta. 

 Descumprindo todas as leis de garantia a privacidade, deixei que minha curiosidade vencesse e adentrei naquela casa. Analisei todo ambiente e verifiquei algo que poderia dar a entender que poderia estar à frente de uma cena de crime. Eu precisava ser rápido, porque a qualquer momento, aquele estranho ser poderia voltar.  

A casa estava aparentemente vazia, então dei uma olhada em tudo e saí. Mas algo me chamou atenção. Em cima da mesa da sala de entrada, tinha um uniforme.  Um uniforme que eu me recordo de ter visto em algum lugar. Uma sensação muito estranha. Segui meu caminho, pensando em tudo aquilo que havia me acontecido hoje. Fui para minha residência e me repousei até o anoitecer. Organizei meus itens de trabalho para o dia seguinte, pois enfrentaria um longo plantão.  

Chegando na Delegacia para iniciar meu expediente, fui notificado com um desaparecimento. Com 96 horas, o caso era dado como grave, pois, baseado no que foi deposto, ele nunca havia desaparecido. Fui analisar o caso e chamei as testemunhas, a mãe, o pai e as últimas pessoas que tinham tido contato com ele nas últimas vezes que ele foi visto. Analisei toda a ficha do desaparecido. Um fato muito estranho aconteceu.  

O desaparecido era o garçom que me atendeu naquela cafeteria havia uma semana. A família disse que ele era um menino disciplinado, estudioso e queria abrir sua própria empresa para ter melhores condições e agraciar sua família com essa conquista.  

 Começamos a busca fazendo o trajeto que ele fazia de sua casa até a cafeteria. Nada fora do normal. Perguntamos a família se ele nunca havia se envolvido com nenhum tipo de vício ou dívidas. De vício a família estava certa de que ele não tinha envolvimento. Já as dívidas... a família não sabia.  

Então, me recordei daquele momento do café em que uma pessoa passou olhando do outro lado da rua, com um andar peculiar e um semblante assustado. O que será que estava acontecendo?  

Os dias foram se passando, algumas pistas eram encontradas, mas nada muito concreto. Foi um caso complexo, porque nada fazia sentido, nenhuma peça se encaixava. O acontecimento no café não saía da minha cabeça e, na minha concepção, tinha sim algo a ver. 

Fui ao café e pedi imagens da câmera de segurança que dava para o outro lado da calçada. Pedi o dia e o horário, incerto, do momento em que eu estava lá. Com muita dificuldade, a gerência encontrou o vídeo. Não estava tão nítido, mas levamos para aprimorar na Delegacia. Reconhecemos o homem, mas descobrimos que ele era de um outro estado.  

Entramos em contato com a delegacia local e, onde deveria haver uma resposta, encontramos mais um problema. Ele estava viajando a trabalho, e a família não o via a muito tempo. Entramos em contato com a família, que nos informou que no telefone, aparentemente, ele estava muito estranho. Começou-se então uma busca por parte de duas organizações distintas. Pistas e mais pistas, burocracias e mais burocracias.  

Tudo nos levava a um só caminho. A uma só ideia. A um só lugar. A uma só CASA!  

A casa estranhamente silenciosa de Baker Street havia ganhado vida depois de tanto tempo, mas rodeada de policiais. A busca por vestígios e pistas começou. A porta da casa estava trancada e precisou ser arrombada. Uma equipe toda buscando por duas pessoas desaparecidas. Talvez, sem vida.  

Me lembrei que, na última vez que estive aqui, vi um uniforme em cima da mesa da sala de entrada. Pois bem. Ele não estava mais lá. Com certeza era do Garçom, que coincidentemente, também estava desaparecido. Falei para equipe e fomos em busca do uniforme, que dava indício que o homem tinha passado por lá.  

Na gaveta da escrivaninha localizada na sala, vários papéis com ameaças foram encontrados. "Pare com isso, ou eu te mato" "Acho melhor parar por aí. Suas policiais para farejar a casa. E bom, os dois corpos estavam lá, enterrados debaixo do jardim.  

Mas, afinal, de quem era a casa? Pedimos na prefeitura a escritura da casa e, bom, era do dono da cafeteria.

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