1° LUGAR – PROSA ESTUDANTIL – CONTO – COLÉGIO ARQUIDIOCESANO DE OURO BRANCO – VI Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"

 Os jardins da Presunção

Maria Clara Vieira Antonino


Não ousara falar com ele desde que entramos na festa, mal trocávamos olhares, sabia o que estava prestes a acontecer. 

No momento, eu estava encostada em uma pilastra de braços cruzados, mal conseguia sentir minha respiração. Miguel estava conversando com uns amigos antigos, pessoas que eu mal conhecia, mas foram rostos recorrentes em minha vida durante esses oito anos, só pude notar sua respiração igualmente acelerada quando se aproximou, e disse:

— Está com ciúmes? 

— Não! Pelo amor de Deus, não! — respondi com uma risada ácida. — Mas não posso dizer que seja divertido observá-lo, ou observar qualquer um deles se divertindo. Acho que tenho mais ciúmes daqueles que estão dançando. 

— É um convite? 

— Apenas se houver um parceiro decente. 

Miguel ofereceu-me o braço, enquanto pude observar seus olhos verdes com um brilho de divertimento ao fazer o convite. 

— Aurora, dance comigo. 

Tomei seu braço, que conduziu para o centro do salão. Quando chegamos seus dedos entrelaçaram-se aos meus. Enquanto sua outra mão deslizava ao redor da minha cintura, apoiei minha mão livre em seu braço. E ali no meio de um mar de pessoas, começamos a dançar. 

Era estranho, mas ao encarar aquele raso oceano que encontrava em seus olhos, parecia que o resto do mundo se reduziu a nada. Rodopiávamos e balançávamos conforme a música, por um instante, não soube dizer se estava mesmo preparada para o fim. 

Quão injusta é a sorte daqueles que encontram algo real, mas que está fora de alcance. Não há nada mais belo do que uma trágica história de amor, aquela em que uma pessoa boa se envolve com a pior pessoa possível, e por alguma razão funciona, pelo menos por um tempo. 

Era previsível que isso acontecesse, me importava tanto com o futuro, que me perdia no de que por alguma razão, um dia ele partisse. Anos atrás estávamos no mesmo lugar, descalços no final de uma festa qualquer, os olhos de ambos cegos para tudo, exceto para o outro, um começo sagrado. Não tinha sido apenas fácil me apaixonar por Miguel, era inevitável, já tinha acontecido. 

O começo se tornou o meio, e jamais deveria existir um fim. No auge dos 20 anos, prometíamos amor e felicidade eternos, mas o problema, eles podem existir um sem o outro. Éramos incríveis, mas existia uma diferença entre nós, eu o amava, juro que amava. Éramos felizes juntos, e de repente, você estava bravo, nada aconteceu da maneira que eu queria. Ele esteve tempo inteiro com o anel de sua mãe no bolso, com a bela e delicada joia, Miguel se ajoelhou, imersa em tudo não pude ouvir o pedido, mas era explícito. Você já ouviu a história sobre a garota que ficou presa em sua própria fantasia? 

Eu fiquei lá, poeira se acumulando em meu vestido, a fumaça invisível que cobria meu jardim. Às vezes você simplesmente não sabe a resposta, até que ele esteja de joelhos. 

Em minha defesa não tenho uma desculpa, nós amantes antigos, que tinham planos diferentes para o final da noite, um queria encerrá-la e o outro trouxe um anel.

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