Vencedores Conto Estudantil – COLÉGIO BATISTA MINEIRO - UNIDADE OURO BRANCO – V Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco" – 2022

 Vencedores da categoria Conto Estudantil

do COLÉGIO BATISTA MINEIRO - UNIDADE OURO BRANCO


A BELEZA DO INTERIOR

Ana Alice Lima Lopes

Colégio Batista Mineiro – 1ª colocada

 

Naquela manhã nublada, Ísis olhou pela janela do carro e lembrou-se de como assuntos de adultos eram chatos e se arrependeu de ter aceitado a barganha de seu pai: ela poderia ir ao cinema com suas amigas se o acompanhasse a uma “divertida” ida ao banco. Decidiu que ficaria olhando as vitrines de suas lojas favoritas enquanto seu pai estivesse resolvendo problemas. Ele apenas lhe alertou que não fosse longe, que ficasse nas redondezas da Matriz, mas mal sabia ele que ela iria longe, muito, muito longe.

Passou por algumas lojas, mas nada lhe interessou e resolveu ir até a grande praça no centro da cidade ver as flores primaveris que desabrocharam. Havia concordado em sair com o pai, mas saía que um grande trabalho de história a esperava em sua escrivaninha; Ísis sabia que o trabalho estava lá há um bom tempo, mas não conseguia se interessar o suficiente pelo tema proposto: Analisar o desenvolvimento humano considerando os ganhos e as perdas. Extremamente complexo e extenso, o tema a sustava.

Enquanto se distraía com a variedade de cores e formas, notou que começava a chover. Vendo que a velha igreja estava aberta e vazia, resolveu entrar; afinal de contas, era uma bela construção. Talvez ali pudesse pensar melhor na desculpa que daria para a professora quando não apresentasse trabalho algum no dia seguinte; caso não conseguisse desenvolver nenhuma estratégia argumentativa, ao menos, dentro da igreja, estaria mais inspirada a pedir auxílio divino.

Assim que passou pelos umbrais da porta, percebeu que nada a havia preparado para a explosão de beleza e história que tinha diante de si; havia fileiras de bancos feitos com madeira envelhecida e todos eles apontam para algo que nunca mais poderia ser esquecido. Ísis não queria nunca esquecer aquilo: todos aqueles detalhes o altar, a delicadeza no entalhe de madeira, a garota teve a sensação de que a qualquer momento alguma daquelas estátuas começaria a falar, e no fundo desejava que isso acontecesse, que elas lhe contassem tudo o que viram desde que foram formadas e colocadas ali estáticas, com o único propósito divino de adoração. Quem diria que em uma cidade tão pequena tanta beleza estaria escondida! Era impressionante a realidade de que em vasos tão rústicos e pouco chamativos estivessem guardados os melhores perfumes talvez toda aquela aparente contradição fosse proposital: talvez parte da majestosidade das coisas devesse ser preservada para os mais corajosos, aqueles que fossem até o fim em busca da essência do belo. Ísis ficou tão impressionada que nem percebeu que já havia se sentado em u dos bancos a fim de apreciar e sentir melhor a beleza do lugar. A menina se assustou com as badaladas do sino – que convocava os fiéis para a missa do meio-dia – e entendeu que era hora de ir embora; havia passado tempo demais ali e tinha muitas tarefas da escola além do fatídico trabalho.

Enquanto se dirigia à porta, reparou que as pessoas que entravam na igreja se vestiam e se portavam de uma maneira diferente do usual: usavam roupas chiques e grandes demais. Ninguém parecia notar a presença de Ísis no local; ela se sentia deslocada por ser a única sem um vestido comprido, sem sapatos de salto alto e luvas de renda a menina tratou logo de sair do lugar para encontrar seu pai e voltar para casa, mas, assim que atravessou as portas da igreja, um pensamento cruzou sua mente Ísis estava em sua cidade, mas, contra toda lógica, aquela não era a Ouro Branco que ela conhecia. Aquela era uma pequena cidade agrícola da Estrada Real durante o século XIX! Na escola, a garota já havia estudado um pouco sobre a história de Minas e se encantado com todos os muitos relatos e algumas lendas sobre os desbravadores das serras, os quais abandonavam a segurança de suas casas em busca do cobiçado ouro das montanhas. Outras cidades da região eram famosas por suas riquezas minerais, mas ela também sabia que estas mesmas cidades eram abastecidas por cidades agrícolas, como a sua. Pareceu a ela que somente naquele momento as histórias que ouviu se tornaram parte do curso da História maior. Por algum motivo desconhecido a jovem garota de uma pequena cidade do interior de Minas foi lançada de volta na espiral da História. Talvez fosse uma falha na matrix, ou apenas um sonho, mas a certeza intuitiva que tinha era a de que aquilo não duraria muito e, por isso, precisava aproveitar a oportunidade de desbravar, ela mesma, o passado que havia ficado, durante tantos anos de escola, restrito aos livros.

Ísis resolveu andar pela praça e avistou alguns grupos que pareciam ter vindo de plantações eles retiravam caixotes de carroças movidas por tração animal. Os caixotes, colocados no chão, continham legumes, verduras e frutas, principalmente batatas e uvas. A garota logo deduziu que aquela seria uma espécie de feira dos tempos antigos e pensou em como era engraçada a diferença tecnológica entre a feira do século XXI e a do século XIX, em como os avanços permitiram uma qualidade melhor na oferta dos produtos e em como as coisas são mais práticas no mundo moderno além das diferenças tecnológicas, ela também se deparou com diferenças na paisagem ao seu redor as casas eram bem excêntricas; pôde reconhecer a arquitetura colonial em todas as que estavam na praça. Nos dias “atuais”, algumas daquelas construções ainda estavam de pé, resistindo como verdadeiros baluartes conta a degradação do tempo, sendo um constante lembrete do que um dia aquele lugar já foi. Ela numa havia prestado muita atenção nisso, mas agora era inevitável. Além disso, toda a natureza era distinta: viu por toda parte flores e árvores que jamais imaginou que existissem; ao longe, avistou um paredão rochoso que se erguia imponente, emoldurando a igreja. A menina teve a certeza de que nunca havia visto, em toda sua pequena vida, a Serra tão exuberante. O verde das árvores não era o comum visto todos os dias, era um verde carregado de vida, quase imaculado. A flora parecia acompanhar o espírito de contemplação da época. Em sua realidade, era difícil parar para admirar o que quer que fosse; o tempo parecia correr mais rápido e todos pareciam querer alcançá-lo, como se participassem de uma intensa maratona outra grande diferença que chamou a atenção de Ísis foi a presença de crianças; em toda esquina havia grupos brincando de amarelinha bolinha de gude e passa anel, brincadeiras as quais Ísis conhecia muito bem. A menina sentiu saudades de sua infância, de leveza dos tempos em que também brincava na rua com seus amigos; sentiu tanta saudade que desejou que alguém pudesse vê-la ali e a convidasse para participar daquele momento e, sem sombra de dúvidas, se a chamassem, ela ficaria também pensou que talvez realmente existisse uma característica comum a todas as crianças, independente da época em que vivem:   a inocência. Ísis observou que as crianças brincavam na calçada de um casarão que em sua realidade permanecia de pé as o que lhe chamou a atenção na casa foi o cheiro de café da tarde que saía pelas janelas abertas e perfumava a rua, sentiu o cheiro de bolo, pão de queijo e a fé; o cheiro de infância; o cheiro de casa. Novamente a garota desejou que aquela fosse a sua realidade, que pudesse ser vista e fazer parte daquele lugar, mas sabia que seu lar não era ali. Ela sentiu saudades de casa, saudades do pai e das conversas filosóficas que tinha com ele; sentiu saudades a mãe, dos conselhos e dos abraços confortantes que só ela sabia oferecer, Ísis sentiu saudades. A menina queria voltar para casa. Mas como o faria se não sabia nem mesmo como havia chegado ali? Decidiu refazer o caminho para voltar à Matriz, talvez lá ela conseguisse alguma pista de como voltar para sua vida.

Enquanto andava de volta à igreja fez uma lista de tudo o que teve o privilégio de ver, refletiu sobre como a cidade havia mudado, crescido e se desenvolvido, e apesar disso diversos costumes e crenças se perpetuaram e permaneceram em dada morada. Ao chegar na capela, Ísis compreendeu algumas coisas: que do passado ela era apenas uma espectadora, o lugar da ação era o presente e que também existia beleza no passado:  uma beleza mais rústica, mas mais bela também. Mais simples. Mais simplesmente bel. Envolta em pensamentos, Isis não notou a chegada de seu pai; sim, ela havia voltado à realidade assim como avia ido ao século passado, por meio de reflexões sobre a beleza presente no passado. Saindo a Matriz, a menina decidiu dar uma última espiada na construção que a tinha levado em uma das melhores “viagens” de sua vida, viagem na qual ela não só pôde entender melhor a si mesma e ao mundo a sua volta coo reuniu material para finalmente construir seu trabalho escolar. Sabia que não seria fácil nem mesmo rápido, mas construir coisas era complicado e, analisando a cidade em que vivia, agora mais consciente de sua complexidade, ela concordou que alguns sacrifícios valiam a pena parada em frente à igreja, Ísis pensou em uma grande ironia da vida: tanto os dias ordinários quanto os extraordinários começam da mesma maneira, com o mesmo sol brilhante sem evidenciar sombra alguma do que viria pela frente.


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O MISTÉRIO DA GRUTA SECRETA

Letícia Torres de Paiva Ribeiro

Colégio Batista Mineiro – 2º colocado

 

            Há muito tempo, na época de Tiradentes, em uma cidadezinha chamada Ouro Branco, havia um mistério na Serra. Diziam que atrás de uma enorme cachoeira, que ficava isolada, tinha uma gruta cheia de riquezas, como joias, pedras preciosas, moedas e várias outras coisas de valor. O mais estranho de tudo isso é que isso acontecia, mas ninguém sabia o real motivo.

            Até que um dia, João Manoel, um garoto curioso e atentado, quis investigar. Em uma bolsa, colocou um canivete que ele mesmo fez um lampião fósforos e querosene para acendê-lo. Depois de jantar, foi para seu quarto e fingiu que ia dormir. Então, pegou sua bolsa e pulou a janela. Como morava em frente ao matagal, já acendeu o lampião, pegou o canivete e foi desbravar o mato.

            Quando foi começar sua aventura, lembrou que sua mãe acordava bem cedinho para ordenhar as vacas, por isso, tinha que voltar antes do sol raiar para que ela não desconfiasse. Depois disso, realmente começou. Foi cortando os matos e fazendo uma trilha, até que ouviu um leve som e água caindo; apressou-se para ver o que era, e o barulho só aumentava após uma longa corrida, viu uma enorme cachoeira, mas, no momento em que ia ver se era a escolhida, o sol começou a raiar, então, voltou o mais depressa que pôde para casa.

            Ao chegar em as enfiou-se debaixo de suas cobertas e fingiu que estava dormindo. Por sorte, sua mãe não desconfiou de nada. Na hora do café da manhã, avisou a seus pais que ia sair com alguns amigos, mas isso era só desculpa para ir à cachoeira. Lá dentro, viu uma trilha de pepitas de ouro. Vendo isso já estava convencido de que era verdade o mistério, mas a curiosidade o mandou seguir a trilha que, em sua cabeça, não estava ali à toa.

            Quando estava quase no final da trilha, ouviu um rosnado e viu um vulto. O coração do jovem garoto quase saiu pela boca, mas, antes que pudesse gritar, foi agarrado por trás e desmaiou ao acordar, estava e um lugar frio, onde não conseguia falar, se mexer e não via nada. João Manoel acreditava que tinha morrido, mas ninguém sabe ao certo o que aconteceu.

            Há relatos de que ele foi preso para ser devorado. Outros já creem que ativou uma maldição ao pronunciar o código e enlouqueceu dentro da gruta. A mais sombria versão diz que, ao ser morto na gruta, acordou como uma lama perdida e assombra o lugar até hoje. Mas, depois do acontecido, ninguém mais voltou lá.

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